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O reino de Kiato
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Camões já havia cantado o contentamento até das cousas depois de «procellosa tempestade».

A bordo, voltava a vida com esperança de «porto e salvamento».

Os camarotes foram se esvasiando e os salões enchendo-se. As figuras dos festeiros, amarrotadas, nem pareciam aquellas de dias atraz, frescas e rubicundas as feições e o espirito alegre e socegado.

Dez horas de temores e de sobresaltos, a mudança brusca da paz para o perigo, da alegria para a tristeza, tinham-lhes cercado os olhos de roxo, da aureola da vigilia e da meditação.

O commandante fiscalisava o serviço da maruja no concerto das pequenas avarias, que o das grandes era impossivel fazer.

As machinas estavam desarranjadas. O navio, meio desarvorado, não chegaria a Londres. Era preciso arribar. O commandante reuniu os passageiros e expoz-lhes a situação.

O peior é que a tempestade os havia isolado do mundo, destruindo o apparelho telegraphico e impedindo assim qualquer pedido de soccorro. Nem das velas podiam valer-se, pois o vendaval as havia arrancado dos mastros e sepultado no mar.

Arrastando-se, com uma marcha de cinco milhas por hora, o transatlantico seguia para desconhecido porto.