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Rodolpho Theophilo

— «Amai e respeitae a memoria deste grande homem que, com uma energia sobrehumana, conseguiu exterminar em sua patria os maiores flagellos da humanidade. Elle foi um illuminado, um super-homem, cuja memoria se perpetuará até á consumação dos seculos».

A quarta estatua, em marmore, era de Jenner e reproduzia com fidelidade a figura do sabio.

Na peanha deitava-se um varioloso da fórma confluente, apodrecendo vivo, uma copia flagrante do real. Observando-se detidamente a devastação da molestia naquelle corpo, em que as carnes putrefactas se fundiam num liquido peçonhento, a illusão era tal que o olphato parecia sentir o cheiro nauseabundo da salmoura fetida, que escorria das carnes corrompidas. Tinha-se uma sensação do real: a figura parecia de carne humana dissolvendo-se em pús.

Trazia, no pedestal, estes dizeres:

— «Jenner foi um vidente. Acha-se aqui como um dos maiores bemfeitores do genero humano e em particular como o salvador de Kiato, que viu morrer metade de seu povo durante uma epidemia de variola».

Paterson voltou ao hotel. Esse povo era effectivamente grande, dizia comsigo. Para elle, o merito estava na razão directa dos serviços que o homem presta aos seus semelhantes, o que provavam as estatuas.

Os heroes que se sagraram no campo da batalha, os Napoleões, porque não eram perpetuados no bronze? Seria possivel que não os tivessem? Onde estavam os seus Annibal e Cezar, conquistadores de alheias terras, escravisadores de homens, para a sua patria?