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Rodolpho Theophilo

ram de curiosos, de mulheres desoccupadas, que criticassem a pobreza do caixão ou elogiassem sua riqueza. Era aqui uma cousa naturalissima o homem acabar-se quando não podia mais viver pelo gastamento de seus orgãos.

No cemiterio, foi grande a minha admiração. A cidade dos mortos, dividida como a dos vivos em dois bairros: o antigo e o moderno. Naquelle, viam-se provas significativas da vida d’outros tempos: os grandes e opulentos mausoleos. A vaidade humana estava ali muito bem representada e muito bem vivida a illusão do orgulho, julgando perpetuar-se na memoria dos posteros, com aquelles epitaphios falsos, cada qual digno do respeito humano dos que os escreveram.

O bairro moderno era a synthese do sentir do povo regenerado. Um campo vasio de lousas e de cruzes. Todos eram eguaes. A terra faria, sem conhecer hierarchias, a resurreição da carne, não, porém, como a interpretam os livros santos.

Uma profunda cova foi aberta e o corpo desceu a occupar a sua quieta e derradeira morada. Extranhava que um povo tão adeantado não tivesse ainda adoptado a cremação. Mas, reflecti e achei razão.

O fogo não restituiria á Natureza os corpos simples sem a combinação de alguns; ao passo que os infinitamente pequenos fariam a putrefação completa e perfeita, a resurreição da carne, restituindo á Natureza elementos simples, que entrariam na formação de outros corpos vegetaes ou animaes, conservando assim a eternidade da materia.

Fez-se a inhumação e os parentes do morto ali presentes não derramaram uma lagrima, não tiveram um musculo no rosto que se crispasse de pezar. Chorar por que