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Rodolpho Theophilo

Meditou dias e dias. Acariciou a idéa de taxar com pesadissimos impostos as bebidas alcoolicas. Reflectindo, viu que não daria o resultado desejado. O proletariado deixaria de beber, a burguezia beberia menos e os ricos, os millionarios fartar-se-iam. Era meia medida. Além d’isso, á sua morte, subiria ao throno um filho, que talvez acabasse o imposto. Havia outra hypothese, cuja realisação não era impossivel. Uma Camara, composta em sua maioria de alcoolicos, podia supprimir a taxa; uma Camara composta, em sua maioria, de venaes, podia vender-se aos grandes industriaes de bebidas alcoolicas e supprimir o imposto...

A arvore devia ser arrancada com todas as radicellas, para nunca mais viver. Aquelle homem, perdido pela cultura de todos os vicios, transfigurava-se. Parecia mais uma presdestinação do que uma regeneração. Traçada a sua linha de conducta, agiu, mas agiu firme, indomito, sem esmorecimentos. Seu primeiro acto foi publicar uma mensagem aos seus subditos. Nunca houve documento mais sincero. Fazia o seu exame de consciencia em publico, accusava-se de enormes faltas, não procurando attenual-as, antes aggravando-as. Dizia que o remorso o havia purificado. Não se julgando de todo remido, entregava seu corpo e seu espirito á grande obra da regeneração de seu povo. Si fosse preciso, sacrificaria a vida na realisação do seu ideal. Seria inexoravel para aquelles que se atravessassem no seu caminho. Preferia destruir o seu reino, innundal-o de sangue, para, de seus destroços, de suas cinzas, de seus escombros, reconstruil-o; e, então, a paz reinaria até a consummação dos seculos.

A mensagem atemorisou uma parte da população do reino, mas irritou a outra. Na dia seguinte á sua publicação, começou o saneamento moral da côrte.