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O reino de Kiato
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theca ou estabelecimento que estaria aberto noite e dia, sem ser saqueado?

A questão era não ficar guardada. Com empregados vigilantes mesmo, quanto livro teria sido furtado, quanta pagina arrancada por preguiça de fazer-se a copia, quanta caneta, lapis, canivete carregados! Todas essas miserias, praticadas no Kiato antigo, seriam hoje a morte moral de um homem. Nem mesmo o estrangeiro que frequentava a bibliotheca se animava a commetter taes delictos, porque bem sabia que era vigiado. Enganava-se suppondo-se a sós: olhos que os seus não viam, não o perdiam de vista.

Paterson consultou o catalogo alphabetico. Queria o «Novum Organum» de Bacon, livro raro, que havia muito desejava conhecer. Tinha-o procurado inutilmente em diversas capitaes. Achou-lhe o roteiro: salão numero 6, estante 25, prateleira 8. Dirigiu-se para lá.

Estava o «Novum Organum>» no mais perfeito estado de conservação. Sentou-se á mesa para satisfazer, naquellas paginas, a curiosidade de seu espirito. A obra era interessante por archaica. — Era a chimica no berço, eram as primeiras linhas do methodo experimental, as bases do grande edificio da sciencia moderna.

Depois de duas horas de leitura, repoz no seu logar a obra, tomou o chapéo, a bengala e encaminhou-se para a escada. Ao chegar ao patamar, um clarão, offuscante como um relampago, deslumbrou-o: uma lampada brilhava, illuminando estas letras negras:

«Dr. King Paterson. Tenha a bondade de voltar, assignar o livro de visitas, aberto sobre a mesa do salão numero 1. Escreverá o seu nome, naturalidade, profissão, estado, e que livros consultou. Agradecido».