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Rodolpho Theophilo

Paterson ficou estupefacto. Cada dia que passava em semelhante terra mais a admirava. Sabia que deviam vigial-o, como estrangeiro, porém tão originalmente nunca suspeitou.

Sanada a pequena falta, desceu e seguiu em rumo do hotel.

Conversando com Robert sobre o caso, soube que o kiatense não frequentava a bibliotheca durante o dia e sim á noite; o estabelecimento se achava aberto ás horas de trabalho para os estrangeiros. Dispoz-se a voltar, como de facto voltou, ás sete horas da noite, afim de continuar os seus estudos.

A primeira cousa que o impressionou, ainda na rua, foi a claridade offuscante de um sem numero de focos electricos, que sahia pelas janellas do edificio e se espalhava pelas cercanias.

Subiu.

Os salões estavam cheios. Rara a mesa com um logar vasio. O silencio era tal que se ouvia o volver das folhas dos livros. O atrito do lapis, da penna escrevendo, todos esses leves ruidos se fundiam num sopro brando, que em cadencia estranha enchia o vasto salão.

Paterson, para não perturbar o silencio tumular da estancia, entrou subtilmente, como um felino. Accomodados chapéo e bengala, foi ao catalogo geral das obras dos kiatenses, antigas e modernas, onde as artes, as sciencias, as letras estavam representadas. Escolheu um romance do tempo da decadencia: «A queda».

Logo ás primeiras paginas, viu que lia scenas da vida de uma sociedade de todo corrompida. O autor, sectario da escola franceza, cultivava o thema eterno — o adul-