— O que me desespera é viver à custa dos outros. Ninguém sabe o que a gente sofre; então mamãe, coitada! não se queixa, mas chora às escondidas, que eu bem sei.
— Ah! minha sinhá moça! exclamou o negro velho deixando pender a cabeça ao peito, e descaindo os braços ao longo do corpo, enquanto as lágrimas saltavam-lhe em bagas.
— Mas isto não é nada, Benedito. Quando eu penso que essa riqueza era mesmo de meu pai, e se ele não morresse, minha mãe não havia de viver de esmolas, aqui onde devia ser senhora...
O negro sentiu uma vibração íntima, e seu grande talhe estremeceu como a lâmina de uma espada, segura pela ponta. Recobrando-se porém dessa emoção, que escapou ao menino possuído de seus próprios sentimentos, acudiu com a voz calma:
— Nhonhô se engana. Eu estava sempre na casa grande e vi como foi tudo.
— Está bom! disse Mário afastando-se contrariado.
— Onde vai?
— Brincar sozinho!