Página:O Tronco do Ipê (Volume I).djvu/118

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confiava tudo da honradez proverbial do velho fazendeiro.

A situação porém era outra agora. Estava reduzido à penúria, e tinha não só de sustentar-se com decência, como de prover ao futuro incerto de sua mulher e filho: Mário contava então dois anos; e o pai muitas vezes embalando o berço do menino para o acalentar, enxugava a furto as lágrimas que lhe rolavam pelas faces e iam umedecer as brancas faixas.

Obteve José Figueira de um fazendeiro, amigo íntimo do pai, o favor de falar-lhe sobre a questão do inventário. O comendador declarou positivamente que na ocasião do falecimento de sua primeira mulher, ele não possuía mais do que dívidas, pagas depois com os lucros das colheitas. Se o filho duvidava disso, lhe pusesse demanda, que havia de provar em juízo o que dizia.

Concluiu pedindo ao amigo que não lhe falasse mais do filho ingrato, ao qual ele já fazia muito em não deserdar. O comendador não falava certamente da deserdação solene por testamento, nos casos da lei, mas desse meio indireto de que usam muitos pais, colocando simuladamente os bens em nome de terceiro.