Página:O Tronco do Ipê (Volume I).djvu/193

Wikisource, a biblioteca livre

O frio glacial e a imobilidade respondiam apenas à sofreguidão e às ânsias daquele coração de pai. Ele retraía-se dolorosamente, e sepultava-se de novo em um desespero mudo e estúpido.

Alice era a imagem de um anjo em cera. Seus cabelos louros, molduravam-lhe o rosto como um resplendor; o vestido despedaçado, aparecendo por cima das coberturas junto às espáduas, figurava as pontas de lindas asas azuis. Seus lábios entreabertos não sorriam, porque não tinham mais alma que os animasse, e o sorriso é uma flor d'alma; porém, essa flor, ali ficara como a pálida bonina arrancada de sua haste. Os olhos abertos e completamente pasmos, coalhavam-se, como a luz na gota que se congela; aqueles céus estavam ermos do anjo que os habitara.

A cútis alva tinha uma doce transparência produzida pela polarização da luz de sua alma que se refrangia para o céu.

Mário estacou em face dessa pura imagem, cobrindo-a com um olhar ardente. Não foram porém os toques suaves da beleza inanimada, nem a candura da linda menina, ceifada no alvorecer da inocência,