Página:O Tronco do Ipê (Volume I).djvu/61

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Quando as meninas entraram na cabana, Mário que as acompanhara com o olhar, tirou do seio um pequeno embrulho enrolado em um lenço. Dentro havia uma moedinha de prata de cunho antigo que valia uma pataca, e um pequeno registro de São Benedito.

O preto recebeu o mimo de joelhos, e como se fosse uma relíquia sagrada. Não é possível pintar a efusão de seu contentamento nem contar os beijos que deu nas mãos de Mário e nos presentes, ou as ternuras que na sua meia língua disse ao santo e à moeda.

Cumpre advertir que pai Benedito não era desses pretos, que suspiram pelo vintém de fumo; ele gozava de certa abastança, devida a seu gênio laborioso, e às franquezas que lhe deixava o senhor. Seu reconhecimento não tinha pois mescla de interesse; era puro gozo de saber-se lembrado e querido pelo menino.

De seu lado Mário gozava também daquele prazer que ele causara, e que por uma espécie de refração comunicava com sua alma. A expressão terna que se derramava agora na sua fisionomia, era muito rara. Para trazer ao preto aquele insignificante presente, ele