Página:O Tronco do Ipê (Volume II).djvu/149

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de uma criança, forçada pelo desamparo a aceitar a subsistência da mão que talvez assassinou-lhe o pai, e a receber como esmola humilhante as migalhas de uma riqueza que talvez lhe foi roubada! Não há dúvida! o Sr. Mário Figueira civilizou-se! Adquiriu essa admirável ciência que ensina a ir com o mundo; a aceitá-lo como ele é realmente, e não como o sonham os moralistas. O barão, alma de têmpera antiga, tipo raro da amizade, lembrado dos benefícios que devia a José Figueira, se desvela em proteger o filho de seu amigo. É essa a realidade da situação. Por que pois o Sr. Mário Figueira não há de afagar um tão nobre e generoso patrono, e tirar dele todo o proveito possível enquanto não aparece causa melhor? Se no futuro se descobrir que o barão espoliou com efeito a seu amigo, melhor, porque restituirá o que roubou; se nada se descobrir, ao menos não se perdeu tudo!

Debalde porfiava Mário por sufocar essa voz sardônica, ou com as elucubrações do estudo ou com o torvelinho do baile; o latejo da consciência batia dia e noite a todo instante como a pulsação de uma artéria. Só depois de algum tempo, quando se aplacava o tédio