Página:O Tronco do Ipê (Volume II).djvu/153

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de Alice, partilhando seu contentamento; embora se atirasse à dança com o sentido de atordoar-se, não lhe saíam da mente aquelas repugnâncias, que aí se tinham insinuado.

No dia seguinte, Mário ergueu-se ao romper d'alva. A noite fora para ele de insônia: passara-a revolvendo o corpo no leito e o pensamento nas cinzas do passado. Devorava-lhe o seio uma sede imensa de luz, de espaço, de movimento.

Desceu no jardim; sem intenção formada, levado por um forte impulso, fez uma longa excursão pelos matos e campos, visitando os sítios de que tinha guardado a lembrança, reconhecendo outros que havia de todo esquecido, notando as mudanças operadas durante a ausência nos objetos seus conhecidos. Aqui era um tronco morto que o fogo abrasara; ali um arbusto que se fizera árvore.

Deu-se então um fenômeno mais comum do que se pensa, uma espécie de ressurreição moral. Quantas vezes a índole natural do indivíduo, sopitada pela educação, tolhida pelas circunstâncias, não ressurge mais tarde com extrema veemência?

Ao contacto daquelas devesas, no fundo desses campestres, Mário sentiu que outro ser, diferente,