Página:O Tronco do Ipê (Volume II).djvu/164

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outro, representa um capital alheio; é o título e a garantia de uma dívida.

— Não diga isso, Mário! atalhou Alice ressentida.

— Se é verdade! O dono do papel em que se escreveu, pode julgar-se autor do livro? Que somos nós ao nascer, que era eu principalmente, eu, pobre órfão, senão uma página em branco? Algum valor que porventura eu tenha hoje, e que não teria se me abandonassem, pertence a quem me deu os meios de o adquirir.

— Mas ninguém decerto aqui pretende esse direito, Mário! exclamou Alice. Posso assegurar-lhe que todos ao contrário o respeitam.

— Não impede essa generosidade que eu cumpra meu dever. Considero-me preso a esta casa e à vontade de seu dono, pelo vínculo de uma dívida. Não poderia retirar-me daqui por meu alvitre sem espoliar a outrem de sua propriedade.

O moço fitou o olhar em Alice e continuou articulando friamente as palavras:

— O que me pertence, unicamente, exclusivamente, o que não contraiu compromisso algum, e está livre ainda como Deus a criou, é aquela