Página:O Tronco do Ipê (Volume II).djvu/166

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Sucedeu que em um dos ímpetos, a asa escapou da faca e a mão esquerda resvalando no ar com o impulso, atirou o cadáver do pato à cabeça do conselheiro. O subdelegado com a resolução pronta que pedia o caso, levantou-se, e com um guardanapo fez desaparecer os efeitos da catástrofe limpando das trunfas do orador o molho e as rodas de cebolas que tinham acompanhado o pato. Tão rápido foi o movimento, que o conselheiro não pôde impedi-lo; e quando levou as mãos à cabeça, só achou o crânio liso, pois o chinó lá ia para a cozinha no guardanapo, que o Martinho levava a correr, pensando que tinha dentro o pato.

Felizmente um primo do barão, que se considerava a língua de prata do lugar, tinha-se levantado na outra ponta da mesa para propor a saúde de seu nobre parente; e na forma do costume desfiava imperturbável a própria biografia, como exórdio obrigado da apologia do chefe e protetor de toda a parentela.

Foi um excelente pretexto para que os circunstantes fingissem não perceber o desastre do conselheiro e sua retirada, ou antes evasão.