Página:O Tronco do Ipê (Volume II).djvu/212

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em torno um vago olhar que repousou no semblante lívido do pai. Foi uma ressurreição para a mente já vacilante do barão.

Entretanto Mário, desviando-se do caminho que seguira, penetrava na mata. Ele conservara de sua infância esse amor da floresta, que se parece com o amor do oceano. A alma do homem carece para expandir-se, do elemento de que se criou: salsugem do mar, ou aroma agreste.

Sentado sobre um cômoro de relva, com as costas apoiadas a um tronco de jequitibá, o mancebo refletiu sobre sua vida.

“Está morto o passado: o homem que fui, lancei-o ao nada, como um despojo inútil. Renasço agora outra vez, e como a primeira, para a pobreza e para a luta; porém levo de mais a razão, e de menos o remorso. Sim, o remorso; a flagelação da vítima obrigada a receber o benefício da mão assassina!

“Que nome tem isso que eu fiz? Será uma virtude, um capricho, uma loucura, ou uma imbecilidade?

“A sorte me enviou uma riqueza, que em toda minha vida não poderei adquirir, e para partilhar essa riqueza destinou-me uma esposa, como eu não