Página:O Tronco do Ipê (Volume II).djvu/240

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Terrível luta se dava então n'alma de Mário.

Justamente naquela hora da revelação; quando ouvira pela primeira vez a história da catástrofe que lhe arrebatara seu pai; quando as suspeitas que desde a infância haviam torturado seu espírito, de chofre se transformavam em certeza para sopitar os escrúpulos da consciência; quando todo seu pensamento devia concentrar-se na memória querida; pois justamente nessa hora uma voz solicitava seu coração para a compaixão e o esquecimento.

A súplica final da carta do barão tinha vergado a inflexível rijeza desse caráter. Sua alma nobre, que sufocara um tamanho amor para ter o direito de responder com desprezo à proteção generosa do rico benfeitor, sentiu-se fraca ante a humildade do réu que lhe entregava as provas de seu crime, e submetia-se resignado à punição.

Elevando-se ao nível dessa abnegação, o mancebo consumira, lançando-as ao fogo, as provas do crime. Repelia a vingança, e absolvia o crime, não só da pena corporal, como dessa outra pena mais cruel, a infâmia.

Mas entre o perdão e a reabilitação do infeliz havia uma barreira. Abandonar ao remorso o culpado,