Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/107

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— Deus me livre! exclamou Luizinha assaltada por novos terrores.

— Olhe: si vossê não quizer vir por bem, vem por mal — disse o desconhecido.

— Por mal? E onde está Deus? interrogou Luizinha, elevando todo o seu espirito aos pés daquelle que está em toda a parte para acudir aos atribulados que o invocam com sincera confiança. Nem por mal nem por bem. Eu não vou com vosmecê ainda que me custe a propria vida. Eu sei que Deus me está ouvindo de dentro deste mato, de cima deste céo. Elle ha de lembrar-se de mim.

Diante da firmeza na realidade admiravel, com que a fragil moça respondeu á sua ameaça, o malfeitor sobresteve involuntariamente. Tornando logo em si, porém, continuou com certo disfarce de máo annuncio:

— Ora, menina, deixe-se de asneiras e vamos para diante emquanto o caso não fica mais serio. Si vossê é bonita, eu tambem não sou feio; assim, podemos ter filhos galantes como os têm os passarinhos no seio da solidão.

— Meu Deus, meu Deus, compadecei-vos de mim emquanto é tempo! exclamou ella quasi vencida do terror.

Então á luz crepuscular que enchia a planicie como uma neblina, lobrigou Luizinha