Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/141

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A noite, porém, corria com rapidez. A lua que descia a occultar-se por detraz da floresta, dentro em breve deixaria em trevas toda a natureza. O silencio tornava-se mais profundo, tornava-se absoluto. O sitio, de si ermo, estava agora lugubre por se haver convertido em mansão de morte e luto.

Luiza lembrára-se de ir chamar alguem, visto que ninguem lhe apparecia para a tirar daquelle afflictivo transe. Mas a casa que ficava mais proxima era a de Liberato, a qual distava, entretanto, pouco menos de meio quarto de legua do lugar. Além disso, ella não queria deixar o corpo de Florinda desacompanhado ainda que fosse por momentos, quanto mais por horas.

De uma vez corrêra ao longo da margem a ver si o céo lhe tinha enviado algum protector. Mas logo voltára, lembrando-se de que o cadaver podia, de um instante para outro, ser offendido por algum animal.

— Não, não, minha mãi! exclamara ella. Não te deixarei, haja o que houver.

Então ella vira que o cadaver erguêra os braços para conchegal-a, ao que parecia, ao seu seio. A moça fizera conta que estava sonhando e delirando, e que o movimento de Florinda fôra como illusão dos olhos della.