Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/164

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as aguas que ahi se ennovellavam turvas e lodosas. Essas aguas nunca jamais viriam a ter a limpidez do regato que se desliza em manhã de verão, por cima de prateadas areias; podiam, porém, perder o lodo e os vermes que se geram e alimentam em putridos pantanos; podiam tornar-se mansas, como as dos lagos, azues como as dos golphos.

Ao principio os companheiros do bandido attribuiram o seu silencio, a sua tristeza e a sua abstracção aos ferimentos recebidos na luta. Mas mudaram de opinião tanto que o viram pegar da viola, seu instrumento querido que, não só a elle, mas tambem a todos os do couto proporcionava, nas mãos do inspirado tocador, momentos de prazer e consolação.

Era de tarde. Os bandidos tomaram por uma verêda que ia ter á borda da grota aonde chegava levemente a aragem do taboleiro, e d'onde se descortinava o vasto sertão oppresso e abrazado.

Aos sons da viola puzeram-se uns a cantar, outros a dansar, como brincam saltando as crianças na campina.

De repente Manoel-corisco fez signal para que se calassem.

— Estou vendo alli em baixo um homem que vem na direcção da grota, disse elle aos camaradas.