Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/284

Wikisource, a biblioteca livre

Serena e resignada tristeza cobria-lhe o rosto queimado pelo mesmo sol que naquelle momento lhe beijava a face onde haviam deixado indícios das suas garras a dor moral e a fome. Cahia-lhe sobre os hombros a basta onda de cabellos, cacheados ao longe, e mais negros do que a barba escassa e nova que attestava a sua pouca idade. Seu trajo era simples: véstia de couro surrado, camisa e calça que deixavam ver, atravez dos rasgões, o corpo de côr branca. O Cabelleira estava descalço, e tinha a cabeça coberta por um chapéu de palha de pindoba.

Quando se achou de subito em presença da multidão, levou instinctivamente a mão ao chapéu, e descobriu-se.

Os mais animosos que haviam corrido a pôr-lhe as mãos para segural-o, tomando o gesto respeitoso que bem denotava o bom natural do bandido, por uma ameaça, ou meneio de aggressão, recuaram amedrontados.

Christovam de Hollanda Cavalcanti, sustentando os foros de uma estirpe que já se havia ilustrado em 1710, e que no Brazil independente estava destinada a figurar com o brilho, que sabemos, aproximou-se do bandido e com o ar e geito grave que lhe davam a nobreza e a autoridade que revestia: