Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/291

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tinha persuadido a ir passar alguns momentos no quintal, a fim de se divertir de suas idéas tristes. O Cabelleira sentára-se a um canto, á sombra de uma cajaseira.

Em qualquer parte para onde volveu os olhos só lhe appareceram guardas que não perdiam um só dos seus movimentos. Ergueu os olhos acima dos altos muros que o cercavam, e deu com a vista nas bellas estrellas que tinham sido suas companheiras no deserto. Aquelles astros saudosos, guias leaes e constantes do filho da liberdade, não allumiavam agora nesse filho sinão o escravo da justiça que qualquer criança poderia impunemente insultar.

Lembrou-se de Luiza, cujo cadaver não lhe havia permittido dar á sepultura o instincto da propria conservação, o mêdo irresistivel da morte que o impellira para o seio da floresta antes que elle houvesse cumprido este piedoso dever.

— Ah! Luizinha! pensou elle. Si eu tinha de cahir alguns dias depois no poder da justiça, porque fugi então sem ter primeiro posto teu corpo ao abrigo dos urubús, ou dos cães de caça? Ah! meu amor, perdôa minha crueldade, perdôa minha ingratidão.

As lagrimas saltaram-lhe dos olhos em impetuosa torrente.