Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/294

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Os sons mellifluos que já haviam imposto silencio aos soldados chegaram ao terrado da casa de Christovam como uma torrente de celestiaes melodias, que lembraram a harpa de David, ou a lyra de Amphião. Estas melodias commoveram o capitão-mór e sua joven senhora, que iam ficar dentro em algumas horas separados de novo.

— Como são tristes os sons desta viola! disse elle. São as ultimas despedidas de quem está a entrar no reino da verdade.

— Mais me entristecem estas palavras suas, Christovam, disse dona Leonor. Si nós o pudessemos salvar

— Que diz, Leonor? Elle é um grande assassino. Sua mão tem derramado rios de sangue innocente. Os monstros não têm entranhas mais cruas do que as delle.

— Pobre moço! Para attestar que seu coração não é tão máo, nem siquer lhe vale a expressão de bondade que tem no rosto! Escute, Christovam. Conversavamos aqui ha pouco eu e dona Catharina; Gonçalo Paes estava ao nosso lado. Sinão quando vieram trazer-nos delicias e despertar em nós saudades commoventes os sons que o prisioneiro extrahe com rara delicadeza de seu inspirado instrumento. Dona Catharina manifestou então grandes desejos de o conhecer.