Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/297

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O capitão-mór levantou-se com a pallidez na face. A poderosa dialectica da consorte o havia feito sentir mais alterações na alma do que seus proprios carinhos no coração. A verdade sobre o Cabelleira era justamente aquella que sua mulher havia resumido em meia duzia de palavras vivas e violentas.

Depois de ter dado alguns passos pelo terrado, Christovam caminhou para dona Leonor, que o não tinha perdido de vista.

— Tudo o que disse é verdade, Leonor: mas sou eu acaso juiz? Não sou mais do que o executor de uma ordem do governador. Acredito que prendi um criminoso, para o qual, si a mim competisse julgal-o, teria eu uma condemnação mais branda. Mas o direito de o mandar ir embora não o tenho eu. Si usasse de semelhante faculdade, Christovam dei Hollanda teria lançado sobre seu nome honrado uma mancha indelevel.

Tendo dito estas palavras, Christovam de Hollanda recolheu-se immediatamente a seu gabinete em companhia de Gonçalo Paes.

Quando a lua appareceu no céo triste e pallida como os anjos dos sepulchros, a tropa recebeu ordem para partir no mesmo instante. O capitão-mór precipitava a jornada que havia dilatado para o dia seguinte.