Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/74

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davam para o rio, tendo em uma das mãos uma faca núa, que refulgia aos raios do sol.

— Si quer brincar na ponta da faca, meu branco, a cousa é outra, e vosmecê encontra homem, — disse de cima.

Ainda bem não tinha proferido estas expressões, quando a seus olhos brilhava tambem a faca de seu feroz contendor.

Travou-se então entre elles um combate de gigantes que durou alguns minutos. A esse combate surdo, medonho, dava lugubre realce o deserto com sua profunda solidão.

Os dous contendores eram habilissimos em jogar a faca. Nunca se encontraram competidores mais dignos um do outro.

As laminas inimigas cruzavam-se a modo de impellidas por electricidades iguaes. O jogo da faca era já nesse tempo uma especialidade caracteristica dos matutos do norte, maxime dos matutos de Pernambuco.

Na violenta porfia tinham os jogadores percorrido toda a face da lage que, começando no estreito angulo, ia morrer no Capibaribe por um declívio quasi abrupto. Haviam-se avizinhado tanto do rio, que o ruido das aguas já não deixava ouvir o incessante bater dos ferros assassinos. Estes ferros eram como duas serpentes que mutuamente se mordem sem se poderem devorar.