Página:O cancioneiro portuguez da Vaticana (Zeitschrift für romanische Philologie, 1877).pdf/12

Wikisource, a biblioteca livre
48
TH. BRAGA

(Amador de los Rios, op.cit., p. 623), e isto mostra o interesse que o levaria pelo seu lado a conservar o grande cancioneiro portuguez.

A descripção que faz o Marquez de Santillana d'esse codice, coincide com o que existe na Bibliotheca do Vaticano em copia do seculo XVI: "un grande volume de Cantigas serranas e dizeres portuguezes e gallegos". São ao todo mil duzentas e cinco cantigas compostas no genero descripto por Santillana, e os poetas são em grande numero galegos. Em seguida accrescenta: "dos quaes a maior parte eram do rei D. Diniz de Portugal". Effectivamente o trovador que mais canções appresenta no codice da Vatícana é el-rei D. Diniz, cujas composições estão compiladas entre o numero 80 e 208, sendo ao todo cento e vinte nove. Accrescenta mais o Marquez de Santillana: "cujas obras aquelles que as liam, louvavam de invenções subtis, e de graciosas e doces palavras". Esta affirmação, sobendo-se que o Marquez escreve sobre uma recordação da sua infancia, não podia resultar se não dos gabos ouvidos a Pero Gonzales de Mendoza, poeta do Cancioneiro de Baena, gabos que fizeram com que o livro se conservasse em casa de D. Mecia de Cisneros, e d'onde se tirara por ventura essa outra copia que hóje existe em poder de um grande de Hespanha, segundo uma affirmação de Varnhagem. N'esta mesma carta ao Condestavel de Portugal, allude o Marquez aos talentos poeticos de seu avô e cita varias das suas composições: "E Pero Gonzales de Mendoza, meu avô, fez boas canções". Crêmos que por esta via é que o cancioneiro foi copiado para Castella, copiado dizemos nós porque se conforma com um grande cancioneiro já organisado, de que o de Roma é um apographo terciario. O Marquez de Santillana cita de memoria os principaes trovadores que vira transcriptos n'essa vasta collecção: "Havia outras (sc. canções) de Joham Soares de Paiva, o qual se diz que morrera em Galiza por amores de uma infanta de Portugal; e de outro Ferrant Gonçalves de Senabria". Pela referencia a estes dois trovadores se vê qual o estado do cancioneiro manuscripto ou volume de Cantigas de D. Mecia de Cisneros. No apographo da Vaticana se acha uma canção de João Soares de Paiva, quasi no fim da collecção, (n°. 937) ao passo que no cancioneiro que pertenceu a Colocci e de que apenas resta o indice dos trovadores (cod. vat. n°. 3217) se acha logo sob o numero 23 o nome de João Soares de Paiva com sete canções successivas. Em seguida a este trovador cita Ferrant Gonçalves de Senabria, porem no Codice de Colocci acha-se sob o numero 384 citado Gonçalves de Seaura com dez canções a seguir. Isto concorda com a phrase do Marquez, referindo-se a essas canções: "Havia outras....." O motivo d'esta referencia especial seria por ter este trovador o apellido de Gonçalves, de seu avô, e por isso ainda pertencente á sua linhagem. No Codice da Vaticana agora publicado, acha-se um fragmento de canções de Fernão Gonçalvis, e só sob o numero 338 outra canção de Fernão Gon-