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O CANCIONEIRO PORTUGUEZ DA VATICANA.
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çalves Gonçalves de Seavra, a qual corresponde segundo Monaci ao numero 737 do Codice perdido de Colocci.

Portanto, o Cancioneiro de D. Mecia de Cisneros era completo pelo que se deduz da citação d'estes dois trovadores, cujas obras se achavam antes da folha 42 do actual Codice Vaticano, na qual começa. No Cancioneiro de Colocci, em vez de cento e vinte nove canções, el-rei Dom Diniz é representado com setenta e outo; mas ainda assim era uma grande collecção para o Marquez poder dizer d'ella em relação ao volume das Cantigas uma maior parte. Em seguida a estas preciosas referencias cita tambem na sua carta Vasco Peres de Camões, poeta do Cancioneiro de Baena e contemporaneo de Pedro Gonçalves de Mendoza por cuja via seria conhecido em casa de Dona Mecia de Cisneros, e pelos eruditos que tinham o cuidado da educação do Marquez. Por ultimo, infere-se que o Codice de D. Mecia era uma copia castelhana, por que transcreve o nome de Fernão em Ferrant, e o de Seavra em Senabria, o que se não pode attribuir a vicio de ortographia do Marquez de Santillana. Estes topicos bastam para considerar a copia de D. Mecia mais proxima do texto autographo do que a da Vaticana.


5. Cancioneiro de Angelo Colocci (Catalogo di Autori portoghesi compilato da Angelo Colocci sopra un antico Canzoniere oggi ignoto. Ms. 3217 da Bibl. Vat.)


O illustre editor Ernesto Monaci ao estudar o manuscripto do Cancioneiro da Bibliotheca do Vaticano, n°. 4803, pelas referencias do texto e paginação de um outro codice ali intercalladas, reconheceu que deveriam ter existido duas fontes para este apographo. Nas suas investigações na opulenta Bibliotheca do Vaticano teve a felicidade de descobrir o Catalogo dos Trovadores portuguezes no manuscripto 3217, o qual combina na maior parte com o dos Trovadores do Cancioneiro n°. 4803, sendo as emendas d'este ultimo codice da mesma letra do indice escripto pelo philologo Angelo Colocci, erudito italiano do seculo XVI. É certo que o Cancioneiro da Vaticana pertenceu primeiramente a Colocci antes de vir a ser propriedade da Bibliotheca vaticana; Colocci era um d'esses distinctos eruditos italianos do fim do seculo XV, que colligiram manuscriptos de todos os paizes e cuja opulencia se distinguia pela formação de ricas livrarias, taes como Leão X, Bembo, Orsini, e outros tantos. Colocci morreu em 1549, tendo a sua livraria soffrido bastante no saque de Roma pelo Condestavel de Bourbon em 1527. Por tanto, entre estas duas datas é que se teria perdido esse grande cancioneiro, do qual apenas resta o Catalogo dos Autores portuguezes, e que a Bibliotheca do Vaticano adquirira o cancioneiro n°. 4803, apographo de um outro perdido, mas emendado pela mão de Colocci sobre o exemplar hoje representado unicamente pelo indice.

Antes de examinar qual a riqueza da Livraria de Colocci em