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O CANCIONEIRO PORTUGUEZ DA VATICANA.
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mente aos talentos poeticos de D. Diniz. Como chegou a Portugal noticia do apparecimento em Roma? Sá de Miranda demorou-se na sua viagem á Italia, entre 1521 e 1526, e conviveu com os principaes eruditos italianos, Lactancio Tolomei e João Ruscula, e dava-se tambem por parente da casa dos Colonas; é possível que, regressando a Portugal en 1526, quando havia já cinco annos que D. João III reinava, désse a noticia da descoberta de um cancioneiro em Roma, quando visitara as principaes livrarias; o facto dos poetas da eschola italiana alludirem ao talento poetico de D. Diniz, leva a induzir esta noticia como communicada pelo que trouxe a Portugal esse novo gosto litterario.

Em 1527 foi o saque de Roma, e a livraria de Colocci tambem soffreu com essa devastação; por ventura algum dos cancioneiros acima citados se perdeu, ou foi talvez adquirido algum d'entre os livros roubados por esta occasião da Vaticana. É de presumir que o Libro di Portoghesi fosse o Cancioneiro de que só resta o Indice, e sendo assim, perder-se-hia em poder de Messer Octaviano de messer Barbarino; se o libro da Ribera é o manuscripto de Bernardim Ribeiro, impresso mais tarde em Ferrara, então pode fixar-se a perda do Cancioneiro n'esse mesmo anno em que morreu Colocci. O inventario dos seus livros, feito a 27 de Outobro de 1558, nove annos depois da sua morte, explica-nos como os livros que estavam emprestados ficaram perdidos. Pelo Indice d'este Cancioneiro, achado por Monaci, vê-se que elle constava de mil seiscentas e setenta e cinco canções, mais quatro centas e setenta, omissas no apographo da Vaticana, hoje publicado.


6. Il Canzoniere portighese della Bibliotheca Vaticana, n°. 4803. Messo a stampa de Ernesto Monaci. Halle, 1875


Desde 1847, que o brasileiro Lopes de Moura publicou em Paris um excerpto do grande Cancioneiro portuguez da Vaticana, contendo as canções de el-rei Dom Diniz. Como se veiu a conhecer a existencia d'este precioso codice em Roma? Desde o principio do seculo XVII que elle entrara na Bibliotheca do Vaticano pela doação dos livros de Fulvio Orsini; no seculo XVIII, segundo Varnhagem, era citado por um bibliophilo hespanhol junto com outros codices de poesias catalans e valencianas; o facto de existir com encadernação moderna e com a insignia papal de Pio VII (1800 — 1823) explica-se pela reparação e ao mesmo tempo pelo interesse que houve em conservar o cancioneiro formado de cadernos differentes e incompletos, e escriptos com tinta corrosiva que o pulverisa. Wolf, por intervenção do slavista Kopitar, mandou fazer as primeiras investigações no Vaticano para descobrir este codice de que tinha vago conhecimento pela vaga allusão de Nunes de Leão; foram infructuosas as tentativas; o visconde da Carreira, embaixador em Roma, avisado por um franciscano (por ventura o P. Roquete, como se sabe pelo prologo da edição de Moura) conseguiu a copia da parte publicada em Paris por Aillaud. Desde