Página:O cancioneiro portuguez da Vaticana (Zeitschrift für romanische Philologie, 1877).pdf/18

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1847 até hoje, nunca o governo portuguez, nem a Academia real das Sciencias comprehenderam o valor d’este monumento. A reproducção das nossas riquezas litterarias têm sido sempre feita por estrangeiros, e a publicação d’este importantissimo cancioneiro foi agora realisada por um rapaz desajudado de subsidios academicos, mas animado pelo amor da sciencia. A edição feita em Halle, appresenta todo o rigor diplomatico, de modo que os erros do copista italiano do seculo XVI podem restituir-se á leitura do portuguez do codice primitivo; apesar d’este subsidio, Monaci tentou com um seguro tino critico uma tabella dos principaes erros systematicos, e um indice das necessarias restituições que se podem fazer em cada canção; em fim, tudo quanto é preciso para a intelligencia do texto, existe ali. Monaci conservou a disposição do manuscripto na reproducção typographica, já a uma ou a duas columnas, com todos os vestigios das differentes numerações e siglas referentes a outros codices analogos e mais antigos. Pelo seu prologo, de uma precisão rigorosa, se vê toda a historia externa do Cancioneiro. O Codice da Vaticana está em papel de linho, com trez marcas de agua differentes, tal como se empregava nas edições do Varisco; a letra é italiana, tal como a dos documentos do fim do seculo XV e principio do seculo XVI, proveniente de dois copistas, um que escreveu as poesias, algumas rubricas e notas, outro a maior parte dos nomes, as numerações e algumas postillas, contando ao todo 210 folhas. Da descripção d’este cancioneiro conclue-se, pelo estado em que se acha, que outro ou outros cancioneiros foram n’elle copiados ou confrontados. A primeira nota que se depara ao abril-o é: "Manca da fol. IJ a fol. 43;" isto quer dizer, que o cancioneiro foi copiado de um outro codice que já se achava assim fragmentado, mas que mais tarde foi confrontado com outro que estava completo, como veremos na relação com o Indice de Colocci.

Ao começar o texto acha-se outra referencia: "A fogli 90" e segue-se a canção de Fernão Gonçalves, o que parece significar, que n’este cancioneiro existia outra disposição das poesias á qual se refere este numero, que continúa a cotar successivamente outras canções, entremeiando-se com numeros romanos, que parecem estabelecer referencia a outro cancioneiro. Separemos estas duas ordens de numeros, por onde deduzimos o confronto com dois cancioneiros; para se localisar melhor a referencia que era de folhas e verso, indicaremos a numeração actual das canções: Fol. 91 (canc. 8), 92 (canç. 11); Fol. 97 desunt multa (canç. 43 fine); junto da canção 61, vem a sigla Desunt; junto da 63 vem car. 106; junto da canção 299: "Fol. 141 Al vo" (del volumen?); junto da canção 507 vem: "173 a tergo" e algumas canções com dois nomes de auctores, como Martin Campina ou Pero Meogo, como forme a attribuição de um ou outro texto (canc. 796.). Por fim termina com esta outra rubrica: "A fol. 290 è cominciata una Rubrica e non è finita di copiare". Tudo isto prova, que se fez o confronto