Página:O cortiço.djvu/109

Wikisource, a biblioteca livre

— Se eu soubesse que era para isto que me chamaram, não tinha vindo cá, sabe? gaguejou o lavadeiro, amuado. Eu não sirvo de palito!

E ter-se-ia retirado chorando, se a Rita não lhe cortasse a sahida, dizendo, como se fallasse a uma creatura do seu sexo, mais fraca do que ella:

— Ora não sejas tôlo! Deixa-te ficar ahi! Se deres o cavaco é peior!

Albino limpou as lagrimas e foi assentar-se de novo.

Entretanto, a noite fechava-se, refrescando a tarde com o sudoeste. Bruno roncava no logar em que tinha jantado. A Leocadia passára livremente a perna para cima da de Porfiro, que a abraçava, bebendo paratyaos calices.

Mas o Firmo lembrou que seria melhor irem lá para fóra; e todos, menos o Bruno, dispozeram-se a deixar a sala, enquanto o velho Liborio pedia a Alexandre um cigarro para despejar no cachimbo. Servido, o filante desappareceu logo, correndo ao faro de outros jantares. Rita, Augusta e Albino ficaram lavando a louça e arrumando a casa.

Lá fora o côro dos italianos se prolongava numa cadencia monotona e arrastada, em que havia muito peso de embriaguez. Junto á porta de varias casas faziam-se grupos de pessoas assentadas em cadeiras ou no chão; mas a roda da Rita Bahiana era a maior, porque fôra engrossada pelos convivas da das Dores. O fumo dos cachimbos e dos charutos elevava-se de toda a parte. Decrescêra o ruído geral; fazia-se a digestão; já ninguém discutia e todos conversavam.

Acendeu-se o lampeão do pateo. Illuminaram-se diversas janellas das casinhas.