Página:O cortiço.djvu/258

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continua de porretadas, a que o infeliz não resistiu, rolando no chão, a gotejar sangue de todo o corpo.

A chuva engrossava. Ele agora, assim debaixo daquele bate-bate sem tréguas, parecia muito menor, minguava como se estivesse ao fogo. Lembrava um rato morrendo a pau. Um ligeiro tremor convulsivo era apenas o que ainda lhe denunciava um resto de vida. Os outros três não diziam palavra, arfavam, a bater sempre, tomados de uma irresistível vertigem de pisar bem a cacete aquela trouxa de carne mole e ensangüentada, que grunhia frouxamente a seus pés. Afinal, quando de todo já não tinham forças para bater ainda, arrastaram a trouxa até a ribanceira da praia e lançaram-na ao mar. Depois, arquejantes, deitaram a fugir, à toa, para os lados da cidade.

Chovia agora muito forte. Só pararam no Catete, ao pé de um quiosque; estavam encharcados; pediram parati e beberam como quem bebe água. Passava já de onze horas. Desceram pela Praia da Lapa; ao chegarem debaixo de um lampião, Jerônimo parou suando apesar do aguaceiro que cala.

— Aqui têm vocês, disse, tirando do bolso as quatro notas de vinte mil-réis. Duas para cada um! E agora vamos tomar qualquer coisa quente em lugar seco.

— Ali há um botequim, indicou o Pataca, apontando a Rua da Glória.

Subiram por uma das escadinhas que ligam essa rua à praia, e daí a pouco instalavam-se em volta de uma mesa de ferro. Pediram de comer e de beber e puseram-se a conversar em voz soturna, muito cansados.