Página:O cortiço.djvu/57

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social. A pobre velha desesperava-se com o fato e pedia a Deus, todas as noites, antes de dormir, que as protegesse e conferisse à filha uma graça tão simples que ele fazia, sem distinção de merecimento, a quantas raparigas havia pelo mundo; mas, a despeito de tamanho empenho, por coisa nenhuma desta vida consentiria que a sua pequena casasse antes de "ser mulher", como dizia ela. E "que deixassem lá falar o doutor, entendia que não era decente, nem tinha jeito, dar homem a uma moça que ainda não fora visitada pelas regras! Não! Antes vê-la solteira toda a vida e ficarem ambas curtindo para sempre aquele inferno da estalagem!"

Lá no cortiço estavam todos a par desta história; não era segredo para ninguém. E não se passava um dia que não interrogassem duas e três vezes a velha com estas frases:

— Então? Já veio?

— Por que não tenta os banhos de mar?

— Por que não chama outro médico?

— Eu, se fosse a senhora, casava-os assim mesmo!

A velha respondia dizendo que a felicidade não se fizera para ela. E suspirava resignada.

Quando o Costa aparecia depois da sua obrigação para visitar a noiva, os moradores da estalagem cumprimentavam-no em silêncio com um respeitoso ar de lástima e piedade, empenhados tacitamente por aquele caiporismo, contra o qual não valiam nem mesmo as virtudes da Bruxa.

Pombinha era muito querida por toda aquela gente. Era quem lhe escrevia as cartas; quem em geral fazia o rol para as lavadeiras; quem tirava as contas; quem lia o