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Eu vi O-Hana uma só vez, nos parques de Kyoto, quando em peregrinação primaveral se vae contemplar, á luz da lua, a celebre cerejeira de Guion, toda vestida de pequeninas petalas.

O-Hana éra uma d'essas japonezinhas embebidas de enlevo e de exotismo, taes como vós as conheceis dos leques, dos biombos. Isto basta, á falta de melhor, para definir-lhe o vulto em miniatura, esguio e ondulante, coberto de sedas preciosas; e para imaginar-lhe o rosto pallido em forma de pevide de melão, os olhinhos cerrados, os finos traços das sobrancelhas em viez, a boquinha sorridente, rubra, lembrando uma cereja, e o penteado. . . o penteado colossal como uma enorme borboleta de azeviche, que lhe houvesse pousado, de azas abertas, sobre a nuca. Ria, curvava-se em mesuras, em meneios, agitando no ar descommunaes mangas do kimono; e lá ia seguindo o seu caminho entre um bando de amigas, antes ziguezagueando, a passos miudinhos, indecisos, sem intuito. E eu ia pensando que alli estava, em carne e ouso, a companheira deliciosissima, anjo de graças e fada de sorrisos, para quem podesse offerecer-lhe — japonez clara-