Página:O demônio familiar.djvu/123

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CARLOTINHA – Sim. Todas as manhãs, faça bom ou mau tempo, passa por aqui ao meio-dia; quase nem olha para esta janela, donde eu o espero escondida entre as cortinas, ninguém nos vê, mas nós nos vemos.

HENRIQUETA – Depois?

CARLOTINHA – À noite vem visitar-nos, como tu sabes; todo o tempo conversa com mamãe, ou com mano enquanto tu e eu brincamos no piano. À hora do chá sentamo-nos juntos; ele diz que me viu de manhã, eu respondo que estava distraída e não o vi. Às vezes...

HENRIQUETA – Acaba, não tenhas vergonha. Eu também amo.

CARLOTINHA – Pois sim. Às vezes nossas mãos se encontram sem querer; ele fica pálido, e eu corro toda trêmula para junto de ti. Daí a pouco são dez horas, todos se retiram: então chego à janela e sigo-o com os olhos, até que desaparece no fim da rua.

HENRIQUETA – E é este todo o teu segredo?

CARLOTINHA – Todo.

HENRIQUETA – Parece-se com o meu: ver-se de longe, trocar um olhar, amar em silêncio. Há só uma diferença.