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perceptível Mas, por outro lado, muito ha que faz suppôr que a humanidade americana não está mais no primeiro passo do simples desenvolvimento que eu denominaria « o da sua historia natural ». Ella já, sem duvida, passou por outras sendas, diversas daquella simplicidade, e o seu estado actual não é o primitivo, representa um estado secundário, degenerado. Nesta raça unem-se, portanto, como nos sonhos, as imagens mas variegadas; traços de uma vida natural innocente e pura, ahi se misturam com outros em que a hamanidade parece uma imitação do animal e, finalmente, outros ainda que reflectem a natureza espiritual e elevada do nosso ser attingindo á consciencia perfeita e, quaes harmonias de conciliação, nos irmanam com uma raça decahida, que pelas muitas desgraças quasi se deshumanizára.

Mas, quem ousaria arriscar-se a interpretar tão diversas e emmaranhadas manifestações de união e de auhelo intimo ? Quem queriria aventurar-se a esclarecer as obscuras phases do processo historico pelo qual passaram aquelles homens ? A solução de tal problema certamente seria mnis attrahente e mais fertil do que a investigação da grande cópia de admiráveis productos naturaes que se escondem no seio do Novo Mundo porque, como diz um grande poeta nacional: « o homem é sempre o objecto mais interessante para o homem » .

Uma razão de outra ordem é que nos convida á investigações sobre a humanidade americana, qual o triste facto de estar a raça vermelha, de alguns séculos para cá, diminuindo numa progressão assustadora, de modo a subtrahir-se cada vez mais ás investigações futuras e arriscada a desapparecer talvez completamente .

Todas estas considerações determinam-me a tentar uma exposição do estado do direito entre os indigenas brazileiros, pelo que pude observar por mim proprio durante muitos annos e pelo que pude saber pela narrativa de outros. Espero para essa tentativa obter indulgencia, observando ser um leigo que, arriscando-se num terreno para elle extranho, apenas póde allegar as condições favoráveis em que observou e interrogou.

Antes, porém, de entrar no assumpto especial desta investigação, devemos lançar um golpe de vista sobre o estado social dos selvagens que habitam o Brazil porque, um direito e condições jurídicas, presuppõem uma historia e um estado especial que della deriva.

O que são, pois, estes homens vermelhos que habitam as deusas mattas brazileiras, desde Amazonas ao Prata, ou que em bandos desordenados vagueiam pelas campinas solitárias do território interior ? Formam elles um povo, sào elles partes dispersas de um todo primitivo, são povos diversos, vizinhos um do outro, ou são finalmente, tribus fragmentadas, hordas e familias de vários povos differenciados pelos costumes, pela moral e pelas linguas ?