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O IMPERIO BRAZILEIRO

que a mão da mais perversa das malfeitorias espargiu durante trezentos annos no Atlantico, entre as scintillações da esmeralda e a saphira do ceu e do oceano».

O governo britannico, obedecendo desde os fins do seculo XVIII a preoccupações philanthropicas que se casavam com as commerciaes, puzera como condição ao reconhecimento do Imperio brazileiro a abolição do trafico, e no tratado de 1826 ficou, com effeito, exarado que este cessaria em 1831, mas o interesse dos agricultores foi mais poderoso do que o respeito aos convenios internacionaes, e aquelle commercio proseguiu sem interrupção nem diminuição. Em 1830 tinham-se importado 100.000 escravos: a lei de 7 de Novembro do anno immediato não modificou por assim dizer sua importancia. Anno apoz anno a Inglaterra reclamou contra o desleixo das auctoridades brazileiras, muito da natureza de cumplicidade, e seus cruzadores deram caça no alto mar aos que ella declarara piratas até que, dizendo-se persuadido da inefficacia deste recurso, o Parlamento Britannico adoptou o bill Aberdeen que, attentando contra a soberania imperial, concedeu aos navios de guerra inglezes a faculdade de perseguirem e capturarem as embarcações empenhadas no trafico nas proprias aguas territoriaes do Brazil. Sir Richard Burton, que era um espirito de singular desassombro, qualificou esta lei[1] de «um dos maiores insultos infligidos por um povo forte a um povo debil» e condemnou vigorosamente sua vigencia, mesmo depois de demonstrada a efficiencia da repressão, agindo sob a convicção da necessidade e superioridade da colonização européa. Uma commissão da Camara dos Communs publicou em 1853 que a importação de escravos, que em 1847 fôra de 56.172, em 1848 de 60.000 e em 1849 de 54.000, baixara em 1851 a 3.287. Em 1853 apenas entraram 700, a mór parte confiscada pelo governo; em 1854 um unico navio negreiro foi capturado pelas auctoridades na bahia de Tamandaré (Pernambuco), sendo a carga posta em liberdade e em 1862 o insuspeito ministro britannico Christie,

  1. Exploration of the Highlands of the Brazil, London, 1869, 2 vols.