Página:O imperio brazileiro.pdf/142

Wikisource, a biblioteca livre
130
O IMPERIO BRAZILEIRO

Andrade Figueira pretendia que se negasse tudo ao governo, um governo imposto á nação por um «poder faccioso», qual se tornaria a Corôa si se obstinasse em protegel-o, assumindo a responsabilidade de uma dictadura financeira. «Si os contribuintes — não hesitava elle em exclamar da tribuna — se recusarem a pagar os impostos, eu preferirei esta revolução á revolução da rua, que o governo favorecia contra as gentes de bem». Subia, pelo que se vê, o diapasão, e as palavras reflectidas e serenas de Paulino de Souza não lograram deter as satiras mordazes de Ferreira Vianna contra o chefe do Estado. Paulino declarara com gravidade: «O partido conservador dá ao governo o exemplo da prudencia, do patriotismo, da sinceridade da sua adhesão á causa, que o mesmo governo compromette, da monarchia representativa constitucional no Brazil». O enfant terrible da grey, despindo a cordura monastica que simulava prezar, longe de acceitar o sacrificio preconizado no altar dos principios, repellia a mansuetude como norma politica e insurgia-se contra a votação de qualquer credito como o unico meio á sua disposição para extravasar sua indignação contra o «principe conspirador».

Os protestos suscitados pela objurgatoria injuriosa que annunciara esta expressão não o intimidaram, antes lhe forneceram o impulso de que carecia. A Camara, ora surpreza, ora tripudiante, teve que ouvir até o fim essa philippica, mais precursora da Republica do que os artigos estudados de Quintino Bocayuva ou os discursos declamatorios de Silva Jardim: «Liberaes e conservadores, republicanos, homens de todas as seitas, congregados em redor do estandarte da liberdade constitucional, é tempo de sacudir o jugo de uma omnipotencia usurpadora e illegal, que arruinou todas as forças vivas da nação... Estou farto de representar um papel n'esta comedia politica. É um scenario dos mais tristes, em que só se agitam espectros e uma unica realidade. Esse poder omnipotente e solitario afflige-me, irrita-me, e por mim quero fugir a todas as tentações... Si fosse mais moço, saberia porventura lavrar o protesto com meu proprio sangue, porque a liberdade vale bem