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CAPITULO X
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O plenipotenciario imperial exigira comtudo de Flores este compromisso por um acto separado e reservado versando sobre a liquidação das antigas reclamações e o castigo dos auctores dos recentes ultrajes. Afigurara-se-lhe todavia o mais urgente e necessario encerrar todas as negociações pendentes sem suscitar outras difficuldades ou levantar novos obstaculos, com o fim de estabelecer em Montevideo um governo amigo e alliado que pudesse ser de valia para o Brazil na guerra que se annunciava.

Ninguem comtudo previa que a campanha viesse a prolongar-se por cinco annos. Mitre, o generalissimo dos exercitos alliados por virtude do tratado de 1.º de Maio de 1865, foi o primeiro a enganar-se, vaticinando a tomada de Assumpção dentro de trez mezes. Só occorreu no começo de 1869 pelas forças do duque, então marquez de Caxias. O esforço de resistencia do Brazil, de todo desapparelhado para uma guerra que de algum modo se previa, teve que ser extraordinario. O Imperio já se tinha com effeito por esse tempo desilludido da sua chimera de debilitar a promissora Confederação Argentina por meio da creação de uma potencia rival, senhora do Paraná e do Paraguay, portanto da bacia superior do Prata. Contra Rosas ajudou Urquiza, deixando-se arrastar pela habilidade de Lamas, encarnação dos inimigos de Oribe, e a Carlos Antonio Lopez serviu Pimenta Bueno (marquez de São Vicente) de Mentor, «mais se parecendo entretanto o discipulo com Ulysses do que com Telemaco»[1]. Ao Paraguay prestaram serviço a nossa diplomacia e a nossa engenharia, occupando-se Pimenta Bueno de preparativos bellicos, elle proprio relatando a participação effectiva que teve na elaboração dos planos das defesas de Humaytá e da estrada estrategica do Passo da Patria a Assumpção. Officiaes brazileiros de terra e mar serviram de instructores aos paraguayos e collaboraram com engenheiros militares e navaes europeus nas fortificações nos arsenaes e nos estaleiros onde por fim de contas se preparava a aggressão contra o Imperio.

  1. Oliveira Lima, Um seculo nas relações internacionaes do Brazil (1822-1922), n'O Estado de S. Paulo de 7 de Setembro de 1922.