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CAPITULO II
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politicos, passou a ter perto de si collaboradores de governo cuja sombra se alteava até os primeiros degráãos do throno. Por sua vez cessaram os partidos de ser representativos de opiniões e aspirações definidas para se tornarem «simples aggregados de clans organizados para a exploração em commum das vantagens do poder» (!). Antes d'esta nova phase, os liberaes apegavam-se à maxima cunhada em França sob Luiz Felippe -- O rei reina e não governa, ao passo que os conservadores aventavam que o espirito do poder moderador impedia o monarcha de ser um simples automato, estranho por assim dizer à marcha dos negocios publicos. Os liberaes admittiam o direito de resistencia armada toda vez que o governo commettesse arbitrariedades e offendesse as leis e a Constituição do Imperio; os conservadores repudiavam como illegal qualquer revolução, visto que era livre toda propaganda doutrinaria e que a imprensa, as umas e os tribunaes offereciam meios sufficientes de reparar os abusos das auctoridades e emendar os actos contrarios ao interesse publico. Os liberaes permaneciam addictos ao principio de descentralização administrativa, queriam reduzir ao minimo a acção da policia e pregavam a eleição popular dos magistrados, agentes judiciaes que deviam ser da livre escolha da nação e não instrumentos do poder; os conservadores julgavam a centralização politica indispensavel à integridade do Imperio, e a independencia e inamovibilidade do poder judiciario, arredado dos favores do suffragio, necessarias à dignidade da sua missão protectora dos direitos dos cidadãos e organizadora da resistencia legal (2).

De 1840 à 1848, sobretudo a partir de 1844, hberaes e conservadores sentavam-se junto em gabinetes pouco homogeneos e fatalmente de curta duração que, pretendendo afastar-se da potica partidaria, de facto encaravam com indifferença os conflictos de idéas e testemunhavam tamanha inereia em materia de disciplinas que permittiam a discordia lavrar no seio das maio-

(1) Oliveira Vianna, 4 queda do Imperio, no volume do Instituto Historico commemorativo do centenario de D. Pedro II (1925). (2) Pereira da Silva, Memorias do meu tempo.