Página:O jesuita - drama em quatro actos.djvu/52

Wikisource, a biblioteca livre

Renego os votos que fiz sem consciência; hoje mesmo deixarei para sempre vossa casa.

SAMUEL – Não! É impossível! Tu és meu filho!... Sim! Que importa que a tua carne não seja a minha carne? Que o meu sangue não gire em tuas veias? Que eu não tenha criado o teu corpo? Tu és o filho do meu espírito!... A tua razão, fui eu que a bafejei, que a embalei no berço da ciência, que a iluminei com os raios de minha inteligência. Durante vinte anos verti no teu seio, parcela por parcela, centelha por centelha, toda a minha alma. E agora, que nada me resta, queres abandonar-me?

ESTÊVÃO – Sei que tenho para convosco uma dívida sagrada! Mas não me dissestes um dia que todo o homem pertence ao seu futuro? Meu futuro é o amor; ele nos separa.

SAMUEL – Não, Estêvão, Deus nos uniu; nem o mundo, nem as suas paixões, podem separar-nos. Meu filho, escuta-me. Quando uma noite, há vinte anos, a mão desconhecida de um mercenário te depôs na minha porta, e à luz da alâmpada que tinha alumiado a minha vigília vi-te estendendo-me os braços a sorrir, senti-me renascer! Recebi-te como um anjo do Senhor, que vinha proferir a palavra do profeta