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ed. de D. Carolina Michaëlis, lobo roaz, lobo rapaz, lobo robaz; vid. p. 930. O adjectivo é pois especialmente applicado a lobo.

racionavil, racionavel: xx, 16 (rracionauyl).

razoar, discorrer, conversar: xxxii, 6 (rrazoar). Cfr. Archivo Hist. Port., i, 418, num texto do sec. xv, no sentido de «apresentar razões», «discorrer», «allegar».

razom, razão: viii, 4; xxiv, 4 (rrazom).

regelado, gêlo: x, 3 (rregelado). — Participio de regelar, tornado substantivo concreto; cfr. na lingoa commum gelado, certo doce muito frio. Este vocabulo creio que é agora archivado a primeira vez.

reignar (rreignar) = reinar. O g é meramente orthographico: lat. regnare.

reinha, rainha: xxiii, 9 (rreynhas).

rem, cousa: xxxiv, 25 (rrem), na phrase estereotypada «por nhenhũa rrem do mundo». Na poesia dos nossos trovadores é muito frequente nulha ren, por ex. no Cancion. da Ajuda, ed. de D. Carolina Micaëlis, vol. i, pp. 119, 141, 147, etc., por imitação, supponho eu, do provençal nulla ren (nulha, nuilla, etc.)[1].

repender-se, arrepender-se: i, 14 (sse reepemdem), xlvii, 15 (rrepemdermo-nos). — Alterna com arrepeender (com dois ee).

rezom, razão: lxi, 63 (rrezom). — Alterna na mesma fabula em rrazom: 66 (bis).

riba. Vid. arriba.

ribaldo, mau, velhaco: ix, 14 (rribalda).

riir, rir: xlv, 17, 18 (rrijr). No texto saiu, por erro typographico, ryr em vez de rijr. Os ii são etymologicos: lat. ridere (com mudança de conjugação; propriamente *ridire).

rogar. Empregado transitivamente: «este roussinoll ho rrogaua .. que», xxxi, 4; «andaua rrogando paremte[s e a]mygos» =

  1. Tambem no Canc. de D. Denis, ed. de Lang: nulha cousa, v. 153; nulha sazom, v. 568; nulha rem, v. 1042; nulha rem «nada», vv. 677, 1179, etc.; per nulha rem, vv. 683, 689. Cfr. expressões analogas em provençal (Bartsch & Koschwitz, Chrestomat., Marburgo 1904): si m’escomet de nulla ren, col. 272-1; per nuilla ren, col. 75-18; no i pot nulla ren parlar, col. 273-21; qu’en nulla sasom non pejura, col. 271-18. Assim como hoje na nossa lingoa literaria ha muitos francesismos, tambem na dos trovadores havia certos provençalismos. Digo que nulha rem (ou ren) será um d’elles, por isso que o lat. nulla não podia dar nulha em port. (a geminação -ll- deu -l-); discordo pois de J. Cornu, Gram. der port. Spr., 2.ª ed., § 129. Sobre o lh prov., cfr. Romania, xxxiv, 334.