Página:O livro de Esopo fabulario português medieval.pdf/168

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Em fabulas hespanholas: esta fabula nos enseña, esta fabula muestra, prueva esta fabula, aqui se recuenta una fabula[1]. Em Phedro lê-se tambem: Aesopus nobis hoc exemplum prodidit, I , III; testatur haec fabella, I, V; Aesopus .. narrare incipit, I, VI; quondam, I, VI, XXIV, XXVIII; dicitur, I, XXVI; exemplum egregium, II, I; praecepto III, VIII; olim, III, XVII; hoc argumento, IV, VIII. Foi evidentemente Phedro que serviu aqui de primeiro modelo parao formulario.

Como notei, quando tratei do estylo das fabulas, p. 119, estas encerram algumas vezes adagios, com os quaes, pela sua fórma breve e incisiva, o compilador pretende incutir melhor no animo dos leitores o sentido moral das narrações que lhes faz. Ora ha uma obra hespanhola do sec. XIV, que já acima citei, o Libro de Patronio, ou Conde de Lucanor, de D. Juan Manuel[2], onde os exemplos contidos na 1.ª parte terminam tambem com um proberbio ou sentença (em verso); todavia não ha mais nenhuma relação do nosso fabulario com esse Libro, como nenhuma ha com o Libro de los gatos (sec. XIV)[3], ou com o Isopete hystoriado (1.ª ed., 1489), posto que este provenha do Romulus ordinarius, por intermedio do Aesop latino de Steinhöwel[4].

  1. Libro del sabio y clarissimo fabulador Ysopo, historiado y annotado, 1533 (Sevilha), passim. Ha um exemplar na Bibliotheca Nacional de Lisboa. — Da fonte d’esta obra fallo infra, nesta mesma pagina.
  2. A actividade litteraria de D. Juan Manuel exerceu-se de 1320 a 1335; vid. G. Baist in Grundriss der roman. Philologie, t. II-2, p. 418. As fontes do Livro de Lucanor são varias (orientaes, etc.). — Esta obra foi publicada diversas vezes. Tenho presentes as edd. de Gayangos, Escritores en prosa anteriores al siglo XV, e de Krapf, El Libro de Patronio, Vigo 1902.
  3. O Libro de los gatos (ed. de Gayangos, Escritores en prosa anteriores al siglo XV) é traduzido de Odo de Cheriton (sec. XIII); vid. P. Meyer in Romania, XIV, 393, nota 5. Sobre Odo de Cheriton vid.: P. Meyer, Les Contes moralisés de N. Bozon, Paris 1889 (Soc. des Anc. Textes), p. XII-XIII; B. Herlet, Beitr. zur Geschichte der äsopischen Fabel im Mittelatler, Bamberg 1892, p. 5 sqq. (resumo das fontes: p. 44). As Fabulas e Parabolas de Odo de Cheriton foram publicadas por Hervieux, Les Fabulistes, t. IV, 1896, que as acompanha de um estudo litterario, e falla do Libro de los gatos a p. 106 sqq.
  4. Vid. Hervieux, I, 421, e Morel Fatio, Romania, XXIII, sqq. — No nosso Fabulario não encontro vestigios linguisticos de que alguma obra hespanhola influisse nelle; branchete (vid. Vocabulario), com quanto eu não conheça esta palavra noutro texto português, e se encontre, por ex., no Arcipreste de Fita, Libro de buen amor, ed. de Ducamin, Tolosa 1901, estr. 1401-1404, numa fabula correspondente á nossa, não é prova sufficiente, tanto mais que a nossa palavra tem br-. — O Livro da vida e dos costumes dos philosophos, que se cita no prologo do Fabulario, corresponde, como provei a p. 122-126, não á obra hespanhola do mesmo titulo, mas a uma latina, fonte d’esta.