O Fabulario vem preencher uma lacuna na nossa litteratura dos secc. XIV—XV, e fazer que Portugal se relacione neste sentido com as litteraturas medievaes, visto que ellas possuiam Isopetes, e na portuguesa não se sabia da existencia de nenhum. De Esopo, isto é, Esope, tiraram os franceses o deminutivo Ysopet (Isopet, Esopet), que umas vezes significa o nome do fabulista, outras uma collecção de fabulas. Fallando do Ysopet I e do Ysopet Avionnet[1], diz Robert: «J’ai conservé à ces fables le nom d’Ysopet, où l’on retrouve celui du père de l’apologue, et que l’on donnoit, dans ces anciens temps, à toutes les collections de fables traduites en françois, parce que l’on en regardoit tous les sujets comme fournis par le Phrygien: c’est ainsi que Marie de France avoit nommé le Dit ou le Livre d’Ysopet, le recueil qui contenoit les siennes»[2]. Tambem G. Tardif, traductor das Facecias de Pogge (sec. XIV—XV), diz a proposito da facecia 79.ª (o gallo e a raposa): «En la facétie ensuyvante, aulcuns ont attribué à Ysopet et avecques la translation des fables de Ysopet l’ont mise»[3]. Da França passou a palavra Isopet para a Peninsula Iberica, onde tomou a fórma Isopete ou Ysopete em hespanhol, e Isopete em português. Em 1489 publicou-se em Çaragoça o Isopete historiado; e em 1496 em Burgos o Libro del ysopo famoso, cujo explicit sôa assim: «libro del ysopete ystoriado»[4]. Pelo que toca ao português, lê·se em João de Barros, Ropica Pnefma: «leyxarás Luciano, Homero, Isopete. Quando eu cuido em tanta fabula..»[5], onde Isopete significa o nome do fabulador; em Camões, no comêço da Comedia del rey Seleuco, lê-se tambem: «porém diz o Autor que usou nesta obra da maneira de Isopete». D’aqui se vê que eu podia dar an nosso Fabulario o nome de Isopete Português, no que ia de acordo com usos medievaes; mas não ousei isso, por tal expressão não constar claramente do texto.
- ↑ Avionnet é deminuitivo correspondente a Avianus, nome de um fabulista romano do sec. IV ou V, tambem muito lido na idade-média. Formou-se como Ysopet.
- ↑ Vid. Fables inédites des XIIe, XIIIe et XIVe siècles, vol. I, p. clxiv, nota.
- ↑ Apud Robert, ob. cit. na nota antecedente, vol. I, p. lxxxiv. Esta traducção de Tardif é posterior a 1483.
- ↑ O povo castelhano tambem pronunciava Guisopete: vid. Morel-Fatio, in Romania, XXIII (1894), p. 563, n.º 2.
- ↑ Pag. 289, da ed. do Visconde de Azevedo, Porto 1869.