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adormentar, adormecer: XXXIV, 19.

adubar, arranjar, tratar: XI, 9 (em sentido ironico).

afaago, afago: XLV, 21 (afaaguo). Os aa são etymologicos: cfr. hesp. ant. afalagar, mod. halagar. Origem germanica.[1]

aficadamente, com afinco, encarecidamente: VIII 5.

afremosentar, aformosear: XX, 7, 14.

aginha, de pressa: XLIII, 3 (agynha). Alterna com asinha.

al: III, 20 (all), na phrase: «all dizem com as lingoas e all teem nos seus corações» = uma cousa .. outra cousa.

ala, asa: XXIII, 17 (alla). Alterna com aa. Latinismo.

alá, lá: XXXVIII, 14 (alla).

alcaide: XXXIV, 11 (alcayde). Nas instituições medievaes era o governador de um castello ou provincia. A definição ajuda a expressão que se lê na l. 36: «nem percades por ende a terra». Cfr. A. Herculano, Hist. de Portugal, IV (I.ª ed.), 134-135.

aldea, aldeia: XII, 2, 3.

alegaçom, allegação: LX, 9.

alevantar, levantar: XXI, 9 («nos nom aleuantemos»). Alterna na mesma fabula, 12, com levantar («nom sse podem leuamtar).

algo, bem: VIII, 7. Propriamente algo é o lat. aliquod, mas no nosso texto tem a significação que indíco, i. é: o lobo faria muito bem á grua, dar-lhe-hia muito dinheiro, ou outra cousa de valor. Algo «equivale a alguma cousa, fazenda, bens»: Dicc. da Ling. Port. de Moraes; receber algo, ib. Em gallego ant. «et que gannaua grand’ algo»: Cantigas de Affonso o Sabio, II, 296. Hesp. ant.: «partir sus algos» = sua fazenda: Dicc. da Acad. Hesp. — Cfr. fidalgo = filho d’algo.[2]

algũa, alguma: passim.

algũu, algum: XI, 3. Os uu são etymologicos: vid. s. v. ũu.

alheo, alheio: V, 11: XL, 29.

alimalia, animalia: XVI, 9; XLVI, 12. No primeiro passo alterna com animalia. A fórma antiga mais usual é esta ultima e alimaria, por ex.: no Leal Couselheiro[3] e noutos textos.

alimpar, limpar: XXIII, 10.

amaestramento, ensino, doutrinamento: XLI, 25. Cfr. o voc. seguinte. Alterna com ameestramento.

amaestrar, ensinar, doutrinar: XXXII, 30; XL, 27. Alterna com ameestrar, amoestar e amostrar.


  1. O autor ainda acrescenta: «cfr. na lingoa moderna fàgueiro, onde à (por ser atono, mas aberto) testemunha a antiga duplicidade do a; está por faagueiro.» Vid. Erratas do vocabulario
  2. O autor ainda acrescenta: «cfr. muito algo nos Anciens Textes de Cornu, p. i.» Vid. Erratas do vocabulario
  3. Quando eu citar o Leal Conselheiro, entenda-se que sigo a edição de J.-I. Roquete, Paris 1854 (comquanto não seja isenta de defeitos).