Página:O livro de Esopo fabulario português medieval.pdf/93

Wikisource, a biblioteca livre

esto, isto: III, 21; IX, 20: XXVI, 2, etc.

estoria, historia: prol. 9; I, 10 (hestoria).

estórva, estôrvo: XXXIII, 11. Cfr. torva no Leal Conselheiro, cap. XLII, p. 237. Tanto estórva como estórvo são substantiYos verbaes de estorvar; torva é subst. verbal de torvar[1].

estrever, atrever: XXX, 21 (estrevendo-sse em ell); LXI, 12 (estreuesse). Com a expressão estreuendo-sse em ell cfr. em port. classico atrever-se em alguem[2].

estroso, mofino, mezquinho, desditoso: XXIII, 11. Alterna com astroso: vid. esta palavra. No passo citado a mosca dirige-se á formiga: «como já te disse, tu és estrosa cousa»; ella diz como já te disse, porque na l. 3 chamára-lhe formiga mizquinha, d'onde se vê que mizquinho é synonismo de estroso.

 

F

 
(Procurem-se com f- as palavras que no texto vierem com ff-)

fallar. Usado intransitivamente na expressão fallou e disse, passim; cfr. num texto do sec. XIV «e o ydollo falou-lhe e disse»[3]. Usado transitivamente: «fallar .. cousas», XXXII, 6. Nós ainda hoje dizemos: fallar uma lingoa.

fame, fome: VIII, 1; XLI, 7, 10.

fazenda, cousa, bens: XLIV, 24, 25. Na phrase «nom as faça fazer por outrem», onde as, segundo a minha interpretação, se refere a fazendas, revela-se-nos uma alliteração thematica (figura etymologica): fazer fazendas. Synonimo de fazendas é fectos = feitos, — na l. 28: «o senhor .. melhor vee sseus fectos». Cfr. em Moraes «fez fazenda de bom cavalleiro», i. é, fez feitos, Dicc., s. v. «fazenda».

fecto = feito. O c não tem valor phonetico, é mero latinismo (factu-). Ortographia corrente neste e noutros textos antigos.

fedente, «que fede», «que cheira mal»: XXIII, 33. Adjectivo uniforme, não ainda archivado nos nossos lexicos. Do lat. foe-

  1. Cf. sobre os substantivos verbaes em geral, os meus Respigos Camonianos, I, Lisboa 1904, pp. 41—43.
  2. Dicc. da Acad. e Dicc. de Moraes, s. v. — Em hesp. ant.: «atreuiendo-me en la uuestra mesura», — Crónica general, cap. XXXVI, ms., apud Marden, Poema de Fernan Gonçalez, Baltimore 1904, p. 156.
  3. Cornu, Anciens Textes Portugais, p. 32.