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O MANDARIM
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estava dissipada a allucinação nervosa. Mas aquelle sombrio in-folio parecia exhalar magia; cada letra affectava a inquietadora configuração d’esses signaes da velha cabala, que encerram um attributo fatidico; as virgulas tinham o retorcido petulante de rabos de diabinhos, entrevistos n’uma alvura de luar; no ponto d’interrogação final eu via o pavoroso gancho com que o Tentador vai fisgando as almas que adormeceram sem se refugiar na inviolavel cidadella da Oração!... Uma influencia sobrenatural apoderando-se de mim, arrebatava-me devagar para fóra da realidade, do raciocinio: e no meu espirito foram-se formando duas visões — d’um lado um Mandarim decrepito, morrendo sem dôr, longe, n’um kiosque chinez, a um ti-li-tim de campainha; do outro toda uma montanha de ouro scintillando aos meus