Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/116

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vós, que tenha uma ovelha, e que, se esta lhe cair no sábado em uma cova, não lhe lance a mão para dai a tirar!". [1] Eu fui o primeiro a atirar, por vingança e malvadeza, dentro de uma cova cheia de fogo, não uma ovelha, mas um meu semelhante! Ho meu Deus! Como vai ficar descontente de mim seu padre Antônio por eu ter praticado um ato tão desumano.

Lourenço deitou a correr para que mais depressa chegasse o socorro ao aflito.

Quando Marcelina soube do que acontecera, foi ela própria com o marido e Lourenço buscar o negro queimado para a casa do Cajueiro, a fim de tratar dele, visto que, morando longe da palhoça, não podia estar a tempo e a hora prestando os serviços e cuidados de que precisava o doente.

Lourenço, quando punha os olhos neste, inclinava-os logo abatidos ao chão. O remorso, o desgosto, a vergonha pesavam como anéis de chumbo em suas pálpebras.

— Para que fizeste isto, Lourenço, com o pobre rapaz? perguntou-lhe Francisco. Já me viste fazer alguma vez coisa semelhante?

  1. (S. Mat. cap.XII vers.11)