Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/192

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temperou a guela e soltou sua grande voz ao pé do violeiro, enquanto Bernardina, Mariquinha, as filhas da Bernarda, os sobrinhos do velho Cosme, o Manoel João, o Jacinto da Luzia e muitos outros caiam na roda por sua vez, tripudiando, fazendo recortes e negaças com o corpo, atirando embigadas na forma do imemorial estilo.

O canto de Lourenço era monótono como o dos sambistas em geral, mas a letra variava e tinha as graças naturais das composições do povo.

Eis algumas das quadras com que o rapaz gratificou a companhia. Muitas delas ainda hoje em dia têm extensa voga entre os matutos de Pernambuco, aos quais as ouvi mais de uma vez, jornadeando, entre fins de novembro e princípios de dezembro, do Recife para Goiana nos meus tempos escolares. Elas pertencem exclusivamente ao povo, e eu aqui as dou com a exatidão com que as recebi da grande musa que as produziu.

Minha mulata, eu tenho
Vontade de te servir;
De dia falta-me o tempo,
De noite quero dormir.