Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/266

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quem me há de pagar. Eu nunca matei ninguém. Trago uma faca de ponta aqui no cós para me defender. Mas se o diabo do pé-de-chumbo tiver feito alguma das suas a gente que me pertença, não pregarei olhos enquanto não lhe pregar primeiro a faca na barriga. Hei de tirar-lhe o couro como se faz aos bodes para secar e dele fazer suador do meu cavalo.

Quando chegaram ao engenho Itapirema, em cuja capela estivera oculto em outubro do ano anterior para escapar à prisão ordenada pelo governador Castro Caldas, o ouvidor de Olinda dr. José Inácio de Arouche, era quase noite. O rio tinha tomado muita água e estava de nado.

— Como há de ser isso agora? Perguntou Gil, pondo os olhos naquele mar d’água, que se estorcia por baixo de galerias de folhagens, estrepitoso e medonho. Para atravessarmos esta imensidade agora de noite, corremos o risco de perder algum companheiro. É entretanto necessário passarmos hoje mesmo da outra banda; porque, antes que a alva esclareça, devemos achar-nos na vila. Aliás poderemos chegar já fora de tempo.