Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/288

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O negro aproximou-se, com passo tardo, porque em cada pé começou a sentir o peso de uma arroba, depois que ouvira as ultimas palavras da cabocla.

— Queres saber o que foi?

— Diga, sinhá Marcelina.

— Ele esteve contigo na palhoça de Moçambique, e falando-se aí sobre os motins que tem havido na vila e a revolta dos mascates do Recife, tu te ofereceste a botar água dentro das armas de teu senhor, para elas não pegarem fogo, quando o bando de Tunda-Cumbe atacasse o engenho.

Não se pode imaginar a impressão de medo, dor, arrependimento e cólera, que estas palavras produziram no espirito do negro.

Sem o querer, caiu-lhe do ombro o saco, e ele próprio, para sustentar-se de pé, teve de apoiar-se no ferro de cova que trazia em uma das mãos.

— Ora, dize-me, Germano, prosseguiu Marcelina: isto era coisa que tu dissesses àquele malvado? Podias tu prometer semelhante traição contra teu senhor, que te estima, e que, até já tem, por vezes prometido forrar-te? És um escravo indigno de ter liberdade.