Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/302

Wikisource, a biblioteca livre

porém nunca mais saiu de minha consciência; há de baixar comigo à sepultura. Só Deus sabe, Marcelina, se esse crime não chamou sobre minh’alma a condenação eterna.

— Deus tem sempre o perdão para os bons.

— E eu fui bom? Fui pusilânime e réprobo. Tempos depois, dentro de minha cela, recebi uma carta. Aquela que me fizera cair e que eu arrastara em minha queda, tinha sido mãe e pedia-me que olhasse por ela e pelo filho. A velha tinha falecido, deixando a filha só no mundo, com o testemunho vivo do meu crime. Nos primeiros tempos olhei de longe pela infeliz e pelo fruto do nosso amor fatal; mas sabendo depois que ela se havia desmandado em sua vida, faltou-me generosidade para continuar-lhe os meus auxílios. Todavia, eu não perdia de vista esses entes com os quais o destino me prendera por inquebrantáveis cadeias. Quando ela se mudava de uma terra para outra, como muitas vezes aconteceu, eu achava sempre no novo lugar pessoa de minha confiança a quem recomendar a criança que, rendendo a homenagem devida à decência, eu dizia ser ligada comigo por parentesco remoto. Essa pessoa